quinta-feira, 28 de julho de 2011

“PELO TEXTO ATUAL DO PL N° 7.376, A COMISSÃO NÃO LEVARÁ A NADA”

*Publicado no Jorna da ABI - junho de 2011
Com o sigilo eterno, então a farsa será completa, adverte Erundina.

No mais recente debate público sobre o caso, parentes de mortos e desaparecidos políticos defenderam, no dia 29 de junho, alterações no Projeto de Lei n° 7.376/10, que institui a Comissão da Verdade, durante audiência pública na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, em Brasília. Eles querem que a prioridade da Comissão seja a busca por desaparecidos políticos durante a ditadura. De acordo com a representante da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, Maria Amélia Teles, o governo deve apurar os crimes ocorridos entre 1964 e 1985:

“Queremos uma comissão autônoma, com orçamento e estrutura para fazer essa investigação em todo território nacional”.

Rosário também refutou a possibilidade de participação de militares na Comissão.
“As forças armadas estão sob suspeição até que façam uma autocrítica e venham a público assumir as violações que cometeram. Eles têm de ser depoentes”, disse.

A Deputada Federal Luiza Erundina (PSB/SP) chegou a afirmar que o Projeto de Lei em tramitação no Congresso Nacional, que cria a Comissão da Verdade, do jeito como está sendo apresentado, não leva a nada, uma vez que inclui até representantes dos militares ao lado dos representantes dos torturados. Com a tramitação do projeto de ‘sigilo’ – eterno ou por até 50 anos – para documentos secretos e ultra-secretos, a farsa ficaria, então completa.

Ironicamente, no Congresso já se fala em Cuma ‘Comissão da Verdade Oculta’. Durante a audiência pública, em 29 de junho, em Brasília, o Deputado Federal jair Bolsonaro (PP-RJ) provocou tumulto entre os participantes ao dizer que a Comissão da Verdade é parcial.

“Querem apurar tortura, mortes e ocultação de cadáveres, mas não querem apurar sequestros de autoridades e o financiamento da luta armada por Fidel Castro”. Acabou vaiado e xingado por parentes de vítimas do regime, que  acompanhavam a sessão.  

segunda-feira, 18 de julho de 2011

MANIFESTO EM DEFESA DO OPERADOR ÚNICO DE REDE DE TV PÚBLICA DIGITAL


Nós, deputados federais, representantes das emissoras do campo público (educativas, culturais, universitárias, legislativas e comunitárias), militantes dos movimentos sociais, profissionais da cultura, cineastas, produtores independentes, comunicadores e acadêmicos, membros da Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão e o Direito à Comunicação com participação popular, composta por 194 deputados e 99 entidades da sociedade civil, preocupados com a indefinição sobre o processo de criação e funcionamento do Operador Único de Rede de TV Pública Digital, manifestamos nossa defesa de um sistema que garanta o acesso pleno a todos os canais do campo público. O operador será responsável pela transmissão dos sinais de diversas emissoras do campo público, nacionais e locais, que deverão fazer parte do sistema. 

Com o livre acesso ao Operador de Rede, canais comunitários, universitários, legislativos, estatais ou públicos poderão ser acessados pelos cidadãos no novo sistema digital, ampliando a diversidade de conteúdos, para além dos atuais canais comerciais da TV aberta. Sem ele, corremos o risco de tornar inacessível para a maior parte da população os canais do campo público.
Lembramos também que é fundamental garantir a presença do rádio digital no operador de rede, assim como a interatividade plena, já possível através de um midleware criado por pesquisadores brasileiros, o Ginga, já usado em 12 países. Sendo garantida sua inclusão em todos os equipamentos brasileiros, será possível o acesso a serviços eletrônicos do governo e a criação de uma rede de intercâmbio de conteúdos entre as TVs do campo público e mesmo produtores independentes. 

Pleiteamos que esta questão de OPERADOR DE REDE seja uma prioridade do Governo Federal e seus entes, envolvendo todos os segmentos do governo relacionados ao tema, Ministério das Comunicações, Ministério da Cultura, Casa Civil, Telebrás, EBC, entre outros, sendo este decorrente de ações interministeriais que precisam ser decididas no menor espaço de tempo possível, como forma de viabilizar a criação de uma rede com todos os canais do campo público, de forma gratuita para todos, e que seja definida a multiprogramação em todas suas vertentes.


Frentecom
Frente Parlamentar pela Libedade de Expressão e o Direito à Comunicação com participação popular

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Notícias do Mandato - Brasília, 18 de julho de 2011

 Audiências Públicas - Comissão da Verdade e Casos da Guerrilha do Araguaia

Audiências Públicas marcaram a última semana de junho na Câmara dos Deputados. Leia mais. Clique aqui e conheça a proposta de revisão da Lei de Anistia, que não pouparia os torturadores do regime militar.


Audiência Pública da Comissão da Verdade e da Justiça

Audiência Pública da Comissão da Verdade e da Justiça realizada na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo - ALESP. Leia mais. Assista a fala da dep. Luiza Erundina aqui.
  


II Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas

O 2º BlogProg aconteceu em Brasília e contou com a presença do ex-presidente Lula na abertura do evento. Leia mais. Para ver as fotos clique aqui.


 

Seminário “As Mulheres e a Reforma Política”

A deputada Luiza Erundina esteve em Florianópolis para participar do evento ocorrido na ALESC à convite da bancada feminina. Leia mais. Leia a carta “Lugar de Mulher é na política” clique aqui.




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sexta-feira, 8 de julho de 2011

Movimentos sociais cobram mais participação popular na reforma política

Deputados Luiza Erundina e Edinho Araújo | Foto: Gustavo Lima

Deputada Erundina apoia reivindicação de entidades por mais espaço nas decisões políticas

Publicado em 08/07/2011


São Paulo – Movimentos sociais e populares cobraram da Comissão Especial da Reforma Política da Câmara Federal uma participação popular mais efetiva e direta da população na política brasileira. A possibilidade de aprofundar a democracia, com mais canais para que os cidadãos interfiram nas decisões do poder público precisa ser, na visão dos ativistas, contemplada pela Reforma Política.

Em audiência pública na quinta-feira (7), o grupo fez um apelo por uma ampliação de referendos populares e a criação de instrumentos para facilitar que projetos de lei de iniciativa popular sejam apresentados. Atualmente, são necessárias aproximadamente 1,5 milhão de assinaturas para que uma proposição seja encaminhada ao Congresso Nacional.

"Para fundar um novo partido, você precisa ter 490 mil filiados", observou o representante da Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político, José Antônio Moroni. "É mais fácil criar um partido político do que apresentar uma proposta de iniciativa popular aqui no Parlamento", comentou.

A deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP), integrante da comissão e da Frente Parlamentar Mista pela Reforma Política, falou à Rede Brasil Atual e defendeu um sistema político mais democrático e participativo. “Precisamos regulamentar e implementar, de fato, o artigo 14 da Constituição, que prevê mecanismos de democracia direta com plebiscitos, referendos, projetos de lei de iniciativa popular”, analisou a ex-prefeita de São Paulo.

Sobre as dificuldades na tramitação do projeto, Erundina reconheceu o conservadorismo do Congresso, principalmente no Senado, que irá "oferecer mais resistência do que a Câmara". No entanto, a deputada assegurou que "o envolvimento da sociedade civil irá criar condições para que dessa vez a reforma política saia efetivamente".

Erundina explicou que dificilmente alguma mudança se concretize para as eleições de 2012. “É consenso na Comissão que as mudanças só seriam aplicadas nas eleições de 2014, para poder inclusive criar condições para os debates e aprovações.”

Mais mulheres

Os ativistas cobraram também a garantia de uma participação maior de mulheres na política brasileira. A representante da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), Priscilla Brito, lembrou que o gênero feminino soma “mais de 50% da população brasileira”. Para ela, "não adianta fazer uma minirreforma, só uma reforma aparente, de maquiagem. A ideia é trazer um debate profundo."

Uma das formas de se garantir a presença de mais mulheres no Legislativo, tanto na esfera federal como estadual e municipal, seria a adoção do voto em lista partidária com alternância de gênero. O eleitor escolheria o partido e não o candidato a uma cadeira das câmaras federal e municipais e nas assembleias legislativas. Com a alternância de gênero, cada partido teria de escalar um homem seguido de uma mulher. O modelo é adotado em países vizinhos, como a  Argentina, Uruguai e México.

Atualmente, as mulheres ocupam apenas 8% das vagas na Câmara, apesar de elas serem, por lei, um terço das concorrentes.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Pesquisadores e deputados defendem regulação da mídia

Audiência da Frentecom com o Sr. Andrew Puddephatt | foto: Sérgio Francês
 
Pesquisadores, consultores e deputados defenderam nesta quarta-feira que sejam instituídos no Brasil instrumentos de regulação da mídia. Em seminário promovido pela Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão e o Direito à Comunicação com Participação Popular, os participantes foram unânimes em atestar a insuficiência dos instrumentos de autorregulação para garantir a liberdade de expressão e o direito à comunicação.

O consultor internacional da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) Andrew Puddephatt ressaltou que a liberdade de expressão deve ser garantida e deve ser protegida a independência dos órgãos de mídia, devendo os conteúdos jornalísticos serem autorregulados. “Porém, como todo outro mercado, são necessárias regras para o funcionamento do mercado de mídia”, disse.

Segundo ele, a liberdade de expressão precisa de algumas restrições – por exemplo, em relação a discursos discriminatórios. “Essas restrições devem ser feitas por leis, em acordo com normas internacionais de direitos humanos. A punição pela desobediência a essas restrições deve ser aplicadas por tribunais”, explicou.

A Unesco recomenda a instituição de regras, por exemplo, para proteger a pluralidade e a diversidade da mídia e para garantir a proteção de grupos minoritários, como crianças. Uma alternativa seria, por exemplo, o estabelecimento de horários especiais para programas com violência explícita e pornografia.

Puddephatt também ressaltou a necessidade de regras para garantir uma proporção de conteúdo local nas mídias e para se promover mercados para os produtores independentes de conteúdo (aqueles que não são distribuidores de conteúdo também).

Novo órgão
O representante da Unesco Brasil Guilherme Canela destacou que outra recomendação é de que o Brasil constitua um órgão regulador único para os setores de telecomunicações e de radiodifusão. Hoje a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) regula apenas o setor de telecomunicações.

Esse novo órgão, conforme Puddephatt, seria responsável por garantir o uso eficiente do espectro radioelétrico, para atender ao interesse público; por conceder licenças; e por assegurar a competição. Além disso, atuaria como um ouvidor dos consumidores. “O consumidor deve poder reclamar sobre o conteúdo das mídias para o órgão regulador”, disse o consultor.

Frente parlamentar
Criada em abril de 2011, a frente é integrada por 206 parlamentares e conta com a participação de 104 entidades da sociedade civil. O objetivo da frente, segundo a sua coordenadora-geral, deputada Luiza Erundina (PSB-SP), é formular propostas para uma nova lei para o setor das comunicações, em discussão no Ministério das Comunicações.

“Queremos que esse marco regulatório venha o mais rapidamente para o Congresso para poder dar início às discussões”, disse o deputado Emiliano José (PT-BA), também um dos coordenadores da frente. “Não acreditamos que a autorregulação seja suficiente para enfrentar os problemas do setor de comunicações no Brasil”, completou.

Representantes de algumas entidades que compõem a frente, como o Coletivo Intervozes e a Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço), também ressaltaram a ineficácia da autorregulação e manifestaram apoio a instituição de mecanismos de regulação para o setor de comunicações.

Reportagem – Lara Haje | Edição – Ralph Machado | Agência Câmara de Notícias | 06/07/2011

quarta-feira, 6 de julho de 2011

CARTA DAS MULHERES DO SEMINÁRIO ESTADUAL “AS MULHERES E A REFORMA POLÍTICA” REALIZADO NA ALESC


Seminário “As Mulheres e a Reforma Política” | Foto: Karlos Kilian

Nós mulheres somos mais da metade da população e  a maioria do eleitorado brasileiro. Nossa participação política é intensa e contributiva nos diversos espaços, sejam eles públicos ou  privados. Estamos em grande número nas bases sociais de todos os partidos políticos. Integramos as assessorias de mandatos legislativos e estamos nas equipes de governo. No entanto, continuamos subrepresentadas nos espaços de poder apresentando um dos piores índices de inserção de mulheres no parlamento da América Latina e do Mundo.

As mulheres, os índios, os negros, os jovens, os trabalhadores,  não podem mais conviver com um sistema político excludente, que permite que poucos segmentos sociais minoritários concentrem enormes poderes, excluindo amplos setores majoritários da sociedade.

Por isso, no contexto dos debates da Reforma Política, a Bancada Feminina da Assembléia Legislativa de Santa Catarina, a Bancada Feminina Catarinense na Câmara dos Deputados, as mulheres representantes de diversos partidos políticos, diversas vereadoras, prefeitas e mulheres catarinenses apresentam as prioridades apontadas no Seminário Estadual “ As Mulheres e a Reforma Política”:

1.      A reforma política deve corrigir as distorções da democracia representativa e beneficiar os mecanismos de participação.
2.      A reforma política deverá criar mecanismos para  fortalecer os partidos e democratizar as direções partidárias instituindo a fidelidade partidária programática.
3.      O financiamento público de campanha exclusivo é a alternativa para diminuir a influência do poder econômico sobre os resultados eleitorais  acabando com os altos custos dos processos eleitorais. Deverá garantir não só a participação das mulheres nos processos eleitorais, mas a garantia de vagas para mulheres.
4.      Defendemos o sistema de listas preordenadas regulamentadas para garantir a implementação das cotas com alternância de gênero e a participação democrática dos convencionais.
5.      Para promover ampla participação das mulheres é preciso ainda aprimorar os mecanismos da democracia direta, simplificando o processo de Iniciativa Popular.
6.      Consolidação legal dos conselhos e conferências de políticas públicas criando um sistema integrado de participação ao processo de planejamento governamental.

Por fim, as mulheres presentes  ao Seminário conclamam as  VEREADORAS, PREFEITAS, DEPUTADAS, militantes de movimentos sociais e de mulheres para irem em MARCHA à Brasília reivindicar uma Reforma Política ampla, democrática e inclusiva.



Plenário da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, em 04 de julho de 2011. 

"Ficou a idéia". Entrevista com Luiza Erundina

Na tarde do dia 9 de setembro, Luiza Erundina recebeu a equipe, digamos, do TarifaZero.org na casa que lhe serve de base, de escritório, em São Paulo, para conversar sobre a política de transporte coletivo que marcou – ou deveria ter marcado – seu governo. Muito do reconhecimento de Erundina na política se deve pela experiência de governar a cidade de São Paulo entre 1989 e 1993. Era a primeira vez que o PT chegava ao poder executivo de uma megalópole e Erundina trazia consigo novos ares para a política nacional. Mulher, nordestina, com um histórico de lutas em movimentos sociais, ela precisou vencer resistências até mesmo dentro do partido. Eleita, montou um governo repleto de nomes de peso, como Paulo Freire, Marilena Chauí e Paul Singer, adotando como lema a idéia de “inversão de prioridades”. Ou seja, a compreensão de que era necessário redirecionar as políticas para aqueles que mais necessitavam delas. Aquele governo entrou para a história também como o responsável pela promoção de políticas como os mutirões autogeridos (para equacionar o déficit habitacional), e pelos projetos de alfabetização de adultos (os Movimentos de Alfabetização).

Mas, por algum motivo ainda a ser descoberto, uma das idéias mais inovadoras de seu governo não entrou para a galeria dos feitos mais conhecidos: o Projeto Tarifa Zero, fomentado pela equipe da Secretaria de Transportes, cujo titular era o engenheiro Lúcio Gregori. É sobre este projeto que Erundina fala nesta entrevista, com muita clareza e um pitado de decepção por conta da derrota política que o projeto foi submetido, embora tenha alcançado altos índices de aprovação popular. Essa aprovação é o que a faz acreditar ainda ser possível a aplicação da idéia da tarifa zero. Para Erundina, “se não foi vinte anos atrás, será um dia. A história dá saltos. O importante é você apostar em idéias que são inovadoras e acumular forças. Passa pela vontade popular. Dom Tomás Balduíno já dizia que o novo o povo é que cria”.

Para te explicar: nós temos este site, chamado tarifazero.org, que é consequência da luta que a maioria de nós trava há alguns anos através do Movimento Passe Livre. Não é um site do movimento, mas nasceu para divulgar a idéia que foi, de certa forma, inspirada na experiência que vocês desenvolveram no governo em São Paulo. Como era a conjuntura do governo do início até chegar o momento da idéia da tarifa zero? Como nasceu dentro do governo essa idéia da tarifa zero?

Olha, primeiro: a questão do transporte e do trânsito na cidade de São Paulo foi sempre um problema muito difícil, complexo, desafiador. Não foi diferente na nossa época, até porque nós tínhamos a CMTC (Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos), que respondia, ou deveria responder, por 30% do transporte de ônibus da cidade e nós encontramos  a completamente sucateada. A frota envelhecida, deteriorada, estoques zerados. Basta dizer que havia um único pneu no estoque, no depósito, e esse pneu estava careca. Praticamente 30% do conjunto do sistema não funcionava.

A senhora lembra o tamanho da frota da CMTC?

Eram três mil ônibus. Deveriam operar três mil ônibus, que seria 30% da frota da cidade. Mas estava muito reduzida, com muitos problemas. Além disso, havia uma má vontade dos fornecedores de peças, de acessórios e aqueles elementos que eram necessários para manter a frota. E a frota privada não é que estivesse bem não. Também estava envelhecida, deteriorada. Serviço de baixíssima qualidade e muito caro.
Era um serviço muito caro. Foram muitos problemas e não só em relação às políticas de transporte e trânsito. Mas, particularmente, com transporte nós enfrentamos muitos problemas. Começamos a tentar alternativas. Por exemplo, a questão, da municipalização, no sentido de mudar os termos de contrato da prestação do serviço de transporte. E nós tínhamos minoria na Câmara. Nós governamos quatro anos com minoria na Câmara. E qualquer modificação dessas normas de contratos com as empresas, com os empresários, exigia a aprovação de um projeto de lei. Nós não tínhamos maioria para aprovar esses projetos. Muita má vontade. E só no terceiro ano é que nós conseguimos aprovar a lei de municipalização, que permitia que se remunerasse o serviço não por viagens realizadas, mas também por quilômetros rodados.  Foi uma medida que melhorou a qualidade do transporte, uma outra lógica que passou a reger essa relação contratual e significou, inclusive, a redução do número de passageiros por metro quadrado dentro dos ônibus. Significou melhor qualidade e redução de custos pro usuário e evidentemente a Prefeitura teve que arcar com um subsídio maior das tarifas. 

Era o único meio que se tinha de melhorar a qualidade do serviço. Um serviço essencial. Não é que o usuário precisa desse serviço apenas em alguns momentos do dia. Pelo contrário, todos dependem. Na época eram mais de seis milhões de usuários que dependiam do transporte de ônibus. O metrô era muito mais limitado do que é hoje em termos de linhas. Portanto, era um transporte que representava muito mais do que hoje, do ponto de vista do transporte de massa. E entre outras medidas que o setor de transporte bolou – particularmente Lúcio Gregori [secretário de Transporte] e sua equipe, o Mauro Zilbovicius, o José Jairo Varoli, enfim, os companheiros que integravam a equipe de transporte e trânsito –, havia uma idéia de se ter um Fundo de Transporte para o qual não contribuiriam só a Prefeitura, mas também os empresários. Os que mantinham os negócios na cidade, sistema de bancos, de supermercados, de shoppings, enfim, os que deveriam também participar dos custos desse serviço, já que é um insumo dos negócios. Eles dependiam do trabalhador para ir e voltar para o trabalho. Seja Shopping Center, supermercado, banco, as lojas de um modo geral. Era justo que os custos desse serviço, no mínimo, fossem repartidos em três partes. Um terço da Prefeitura, um terço dos usuários e um terço dos empresários, aqueles que de certa forma se beneficiavam desse serviço, como meio de transporte dos seus trabalhadores, dos seus empregados. E esse Fundo exigia uma outra lei que a Câmara se recusou a aprovar. Houve uma campanha contra essa proposta. O próprio Partido dos Trabalhadores, que era o partido ao qual eu estava filiada como prefeita, também não entendeu a proposta, resistiu a ela. Mas foi essa a idéia. É um serviço ao qual todos se beneficiam e não é justo que só o usuário banque com os custos desse transporte, no caso a tarifa. E também deixar tudo isso como subsídio da Prefeitura era onerar também o usuário, o trabalhador de um modo geral, porque no fundo o recurso público vem do quê? Dos tributos. Se se destina mais subsídio para o transporte, você reduz algum investimento em saúde, em creche, em habitação. Portanto, o serviço público, a fonte de receita dele é o contribuinte, todos que vivem na cidade, trabalham na cidade, produzem na cidade. Então nós entendíamos que seria absolutamente justo estabelecer um Fundo para o qual todas as partes interessadas num bom serviço de transporte pudessem contribuir. E isso a meu ver, a nosso ver, era uma medida justa, uma medida de distribuição dos custos e uma condição para se melhorar o transporte, que é essencial para vida da cidade. Mais essencial, mais importante naquele momento do que hoje, provavelmente.

Como foi o momento de tensão entre governo e o PT? Essa falta de compreensão à idéia foi do partido como um todo, da bancada na câmara, como era?

Havia um movimento na cidade, não só da parte do partido, de outros partidos, da cidade como um todo, numa visão equivocada, dizendo que seria um serviço gratuito e, como tal, todo mundo ia abusar do uso. 
Conseqüentemente viraria um caos, ia piorar a qualidade do serviço. Toda idéia inovadora, criativa, revolucionária em certo sentido, gera resistência. Às vezes uma resistência equivocada, às vezes de má fé. E eu tive uma dificuldade com a Câmara com relação ao transporte porque eles sabiam que, à medida que a gente conseguisse melhorar esse serviço, aliado ao planejamento do tráfego e do trânsito, isso geraria dividendos políticos e eleitorais, já que em quatro anos do meu governo houve três eleições: uma para presidente da república, outra para governador e outra para o meu sucessor. Tudo isso numa relação entre os dois poderes bastante tencionada, porque nós não tínhamos aquela prática fisiológica, promíscua que normalmente existe na relação do Executivo com o Legislativo, sobretudo a história da Câmara Municipal de São Paulo e da Prefeitura de São Paulo. Nunca foi uma história muito bonita do ponto de vista da independência dos dois poderes, de um rigor ético na relação entre os dois poderes. E tudo aquilo que se tentava criar de novo, uma inovação, algo criativo, algo diferente daquilo que tradicionalmente se fazia em relação a esse setor [de transporte] era visto com má vontade, má fé, má intenção e isso evidentemente inviabilizou a proposta. Encaminhamos a proposta pra Câmara e a Câmara rejeitou o projeto. E hoje a gente sabe que é uma idéia que está sendo incorporada, cogitada, reapropriada por muitos governos. Até porque não é uma questão tão inusitada, já que em outros países do mundo a divisão dos custos do transporte é uma coisa que já se faz há muito tempo. Só que nós tivemos resistência, dificuldade e, lamentavelmente, não conseguimos implantar essa idéia inovadora, bastante criativa que se tentou implantar na cidade naquele momento.

Numa conversa que fiz com o Lúcio Gregori, ele contou sobre o entusiasmo que tu tinhas na época ao imaginar que os movimentos sociais poderiam se apropriar desta idéia e reivindicá-la. O PT tinha uma influência muito forte nos movimentos naquele período, mas como foi? Tinha movimentos sociais reivindicando a tarifa zero?

O problema é que, quando se conseguiu construir essa proposta, faltavam poucos meses para se fechar o orçamento da cidade. O Executivo é quem manda o projeto de lei orçamentária e, se não me engano, restavam três ou quatro meses anteriores ao prazo legal para apresentar o projeto na Câmara. Portanto, não houve tempo suficiente para se esclarecer esses setores que, não por má vontade, mas por desconhecimento, por não ter domínio da proposta no seu todo, evidentemente ficavam desconfiados, inseguros, em dúvida.

Mas a população aprovou.

A população aprovou. Só que nós não conseguimos acumular força política, pressão externa ao Legislativo...  e a mídia também. O problema é que tivemos o cerco da Câmara tivemos também com a mídia. Talvez a gente não ter sido muito competente na relação com a mídia. Até porque nós tínhamos muito rigor, muita preocupação em não extrapolar os investimentos em comunicação, em publicidade, em propaganda. Porque as carências na cidade eram tão grandes, como é que iríamos...

Desperdiçar.

Num certo sentido. Vendo de fora, a uma certa distância e fazendo autocrítica, talvez a gente pudesse ter construído aquela relação. Não com os donos dos veículos de comunicação, mas com os jornalistas, os trabalhadores da mídia. Se a gente tivesse tido talvez mais flexibilidade, não no sentido de ceder às práticas antiéticas, desonestas, corruptas, absolutamente, mas talvez se a gente tivesse uma política de comunicação mais flexível, mais aberta, mais política no sentido do positivo do termo, a gente tivesse... não evitado o cerco da mídia, a má vontade da mídia, perseguição, eles faziam campanha contra o nosso governo. Alguns trabalhadores da imprensa, jornalistas que eram próximos à gente e simpáticos ao nosso governo, nos diziam que eles tinham reuniões diárias com os coordenadores das matérias para saber o que é que dava para bater na prefeita, para bater no governo, para criticar o governo. Havia também um boicote permanente dos empresários, dos fornecedores dos bens que a gente precisava para prestar o serviço à cidade e foram quatro anos de muito bloqueio, muita má vontade, muito boicote e de muita perseguição política da mídia, dos partidos políticos, inclusive o meu na época e dos outros dois níveis de governo. Tivemos dois governadores. Primeiro Quércia, depois Fleury, na presidência da república o Sarney, depois o Collor. Enfim, não tinham nenhuma simpatia nem boa vontade com São Paulo – não estou dizendo com nosso governo. Isso tudo explica aquela conjuntura e as dificuldades que enfrentamos, não só em relação a essa questão. Mas ficou a idéia. E quando a idéia é boa, quando a idéia é correta, justa, necessária, oportuna, ela vinga. Mesmo se não vingar naquele espaço, naquele tempo, naquele governo, mais cedo ou mais tarde vai vingar. Em algum momento, em algum lugar, em algum espaço mais democrático, mais compreensivo. Numa conjuntura mais adequada do que foi aquela em que nós tentamos implantar essa idéia na cidade de São Paulo. 

A senhora que essa falta de compreensão por falta da mídia e dos partidos que eram contrários à idéia da tarifa zero pode ter um pouco de preconceito de classe? Em não querer admitir que todas as pessoas na cidade, as pessoas mais pobres, possam se locomover por todos os espaços nela?

Com certeza. E o preconceito de que o pobre não é civilizado, não é educado, não vai entender os limites do uso de um serviço público. O pobre sabe fazer isso melhor do que o rico que nunca fez, não precisa usar isso. E a carga de preconceito que havia contra meu governo, contra mim pessoalmente. Mulher, nordestina, do PT, de esquerda, independente, que não cedia a nada do ponto de vista do que era ético, justo para a cidade, do que era correto. Eu era vista como alguém que atrapalhava os interesses dos privilegiados, dos que sempre tiveram controle do Estado, da Prefeitura. No Estado patrimonialista o Estado é de uma classe, ou de um segmento dessa classe. Conseqüentemente, tudo que vier no sentido de destinar os meios, recursos, a ação do Estado para incluir a maioria excluída, os trabalhadores que geram e produzem a riqueza da cidade... Então, isso tudo, as empreiteiras, todo mundo muito revoltado porque seus interesses estavam, no mínimo, sob controle de um governo que não fazia concessões do ponto de vista ético. Diferentemente de outros governos que nos antecederem e nos sucederam, no superfaturamento de obras e das compras. Isso acabou não existindo no nosso governo e atingiu o interesse de muita gente. E essa muita gente é uma gente poderosa. O poder da mídia, o poder sobre os representantes da cidade, a Câmara municipal. Tudo isso explica o fato de não termos conseguido implantar uma política tarifária moderna, avançada e justa, como seria esta proposta.

A senhora deve acompanhar esses debates, embora ainda tímidos, sobre problemas de tráfego na cidade, a poluição. E a questão do transporte coletivo parece estar tendo mais atenção. O que a senhora acha dessa idéia da tarifa zero hoje. Ela poderia vingar até mesmo neste contexto?

Depende da estratégia que se use para isso. Eu acho que hoje, talvez com o agravamento do trânsito, do transporte, os custos do sistema que a cada dia cresce... Porque quando o trânsito não flui é desperdício de combustível, deterioração da frota, mesmo individual. Enfim, as prioridades de investimento tendem a se alterar. Ao invés de construir tanto túnel, tanto viaduto, tantas vias expressas para favorecer o fluxo de automóveis, se inverta essa tendência e se invista em outro tipo de infra-estrutura urbana, com vista ao transporte de massa, o transporte coletivo, a integração entre os vários sistemas. Um planejamento da cidade que atente para outra lógica que não essa em que todo o fluxo do tráfego e trânsito flui para o centro da cidade. 

Descentralizar o serviço público?

Exatamente. Não só descentralizar, mas distribuir o fluxo de tráfego a partir de outro planejamento. Que as regiões tenham seu planejamento próprio integrado às outras regiões, guardando entre si uma certa lógica, uma certa racionalidade, para reduzir fluxos, para reduzir custos, para reduzir tempo, para dar uma inteligência maior ao fluxo de tráfego e de trânsito. Nós tínhamos já o entendimento disso há vinte anos, só que nós não tínhamos condições políticas, força política, correlação de forças na sociedade. Porque o fato de nós termos sido eleitos pela maioria da população pobre e trabalhadora da cidade... O nível de organização política e a participação política desse segmento não eram, naquele tempo, suficientes, nem hoje também, para respaldar um governo que de fato invertesse toda lógica que predominava na vida da cidade em relação a tudo. Que era sempre o interesse de uma minoria contrariando o interesse da maioria, em todos os aspectos da política de governo local, estadual e nacional – que não tinham boa vontade com relação a uma ação partilhada, articulada com o governo municipal. Mas, apesar disso, nós tivemos a ousadia, a coragem, modéstia parte a competência. Era uma equipe muito competente, muito criativa, idealista, corajosa, ousada e que deixou marcas...

E foi a senhora quem puxou o Lúcio, não? Ele estava em outra Secretaria, a de Serviços e Obras, apesar de ter tido uma experiência com transporte público quando trabalhava para o Metrô.

Pois é, mas ele é uma pessoa muito inteligente, muito capaz. Diria até que tem uma certa genialidade. Onde ele tocava a mão, dava certo. Onde o governo tinha dificuldades, chamava o Lúcio. Chamava o Sandroni, que era outro companheiro. Havia uma disponibilidade muito grande desses companheiros de ajudar o governo no que fosse. O Sandroni também não era do transporte e veio nos ajudar, com o Lúcio, na CMTC, enfim, em outras áreas. Era uma situação, do ponto de vista do governo, privilegiada, pela qualidade dos assessores, do secretariado, da boa vontade. A disponibilidade desses companheiros, dessas companheiras, para enfrentar aquela guerra, que foi a cidade aceitar a decisão da maioria dos eleitores de ter nos colocado a frente do governo da cidade. E eles achavam que a gente não ia dar conta, não acreditavam na nossa competência, apostavam no fracasso, apostavam que já no primeiro ano...

O próprio partido?

Não tanto assim, mas não acreditava. Até porque eu não era candidata do stablishment da direção partidária. O partido não acreditava que eu fosse capaz de conduzir uma equipe. Eu não governei sozinha, governei com uma equipe daquele patamar.

Com quem a senhora disputou?

Era Plínio de Arruda Sampaio. Eu entendo que o partido tinha uma avaliação... O partido, digo, a direção, porque foram as bases do partido que me impuseram como candidata numa prévia. Foi a primeira prévia que se fez num partido político para escolher uma candidatura. E o partido tinha uma avaliação... a direção partidária tinha uma avaliação que até tinha lógica. Plínio era homem, paulista, de família tradicional, com uma trajetória política bastante avançada, progressista, democrática, de esquerda. Certamente, dentro da lógica eleitoral e política daquele tempo, o nome de uma pessoa com o perfil do Plínio tinha muito mais chance de ganhar e governar a cidade do que eu.  Mas as bases do partido pensaram diferente, apostaram numa outra candidatura que não aquela com o perfil que é imposto pela cultura política tradicional, conservadora, elitista e terminou dando uma zebra, nós ganhamos o governo da cidade. O partido ficou muito desgostoso com isso porque também tinha a mesma avaliação que os adversários em relação à minha pessoa. Achavam que eu não era capaz, que eu era agitadora, só. Claro que a minha militância política foi marcada por muita contundência, por muito compromisso com a luta do povo, com a luta social, com a luta política. Eu vim do nordeste expulsa pela ditadura militar, perseguida pela ditadura e aqui em são Paulo não foi diferente. Eu assumi de novo o compromisso de ajudar o povo a se organizar, a tomar consciência dos seus direitos, a lutar por eles. Então eu não era uma candidata de bom gosto para a elite paulistana, para a classe média paulistana, e o partido, que tinha toda razão de querer ganhar a prefeitura de São Paulo... e o cálculo naquele momento é que não era tão fácil assim, sobretudo contrariando a lógica de uma cultura político-eleitoral conservadora, de direita. Uma candidatura com o perfil como o meu era, de fato, uma aposta bastante arriscada. Mas a história se conduz de forma diferente daquilo que essas pessoas... esses segmentos que dominam a cidade e a sociedade e impõem a sua verdade. 

A senhora acha que seria possível construir hoje essa idéia da tarifa zero, lutar pelas questões do transporte, sem uma movimentação popular?

Não, temos que mobilizar. Mais do que isso, não é só mobilizar os setores populares, é também fazer um trabalho de opinião pública, no sentido de traduzir os aspectos técnicos dessa proposta, da inteligência que ela contém nela mesma. Talvez devêssemos todos nós, não só vocês que estão empenhados nessa bandeira, ampliar esse arco de alianças e de forças políticas e de interessados em conhecer melhor essa proposta. Para ver se ela se torna de fato uma política pública não só apenas de uma cidade, nem só de um estado, mas do país. Talvez fosse a hora de se trazer o debate, por exemplo, para uma comissão da Câmara dos Deputados, trazer o debate para o Congresso nacional. Trazer os especialistas e os não-especialistas, os favoráveis e os não-favoráveis à proposta e colocá-la na agenda do país para debate. Já que o problema do transporte e do trânsito, sobretudo no transporte coletivo de massa, ainda é um desafio que não se resolveu, muito menos nas grandes cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Recife etc. Talvez se devessem juntar todas as forças que estão apostando a favor ou contra a essa idéia para colocá-la em debate na opinião pública, trazendo junto os trabalhadores, assalariados, usuários, setor empresarial, setor de transporte, governos das três esferas. Vamos discutir! E vamos, quem sabe, conseguir, agora com uma condição, outra conjuntura, fazer valer uma idéia tão genial, na minha avaliação, tão criativa e tão justa no ponto de vista da maioria, que são os que dependem do transporte coletivo, transporte de massa, sobretudo em cidades grandes como São Paulo. E quero me colocar à disposição dessa luta. Quem sabe a gente possa planejar um debate lá na Câmara dos Deputados. Eu sou uma entusiasta dessa idéia, acho que é uma pena... 

E outras idéias que o governo teve na época. Era uma equipe muito boa. Era Marilena Chauí, era Paul Singer, Paulo Freire, Lúcio Gregori, Paulo Sandroni, uma equipe muito boa, muito competente, muito corajosa. Mas a gente chega lá um dia. Se não foi vinte anos atrás, será um dia. A história dá saltos. O importante é você apostar em idéias que são inovadoras, apostar nelas, e acumular forças. Passa pela vontade popular. Dom Tomás Balduíno já dizia que o novo o povo é que cria. E é mesmo. Não somos nós que temos algum nível de responsabilidade, de autoridade. É o povo junto que dá condições para, né?

 Créditos: Site tarifazero.org | Novembro de 2009 | Por: Daniel Guimarães


terça-feira, 5 de julho de 2011

Asdrúbal Serrano - Biografia e Projeto Guerreiros Urbanos

 
BIOGRAFIA
 
Nasceu em 1971 no bairro do Tatuapé. Aos dois anos teve a tutela entregue ao juizado de menores que o encaminhou para  internação na Febem - Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (atual Fundação CASA), permanecendo nesta instituição até 1986, aos 15 anos.

A partir de 1989 participou de uma oficina de teatro do Núcleo de Artes Lei da Oferta promovido pela APS (Associação Popular de Saúde) no bairro do Cangaíba e no recém inaugurado Teatro Flávio Império, na avenida Assis Ribeiro, zona leste de São Paulo. Nesta oficina teve os primeiros contatos com as técnicas do Teatro Dialético (de Bertolt Brecht), Teatro do Oprimido (de Augusto Boal), Teatro Pobre (de Jerzy Grotowiski) e do Teatro Popular União e Olho Vivo (de Idibal Pivetta).

Ainda em meados de 1990 iniciou o Projeto Guerreiros Urbanos que desenvolve, até os dias atuais, pesquisa sobre teatro popular e teatro comunitário com o objetivo de incentivar a autonomia comunitária e a formação de multiplicadores socioculturais em comunidades socialmente vulneráveis. O projeto atua em diversas regiões da zona leste e zona sul da capital paulista, entre elas os bairros da Penha, Cangaíba, Itaim Paulista, Ermelino Matarazzo, São Miguel Paulista, Vila Matilde, Capão Redondo, Jardim São Luis e Jardim Ângela.

Em 2007 lançou o livro Guerreiros Urbanos - A trajetória de um egresso da Febem e a sua escolha entre a violência e o teatro pela Editora Expressão e Arte. Em 2009 iniciou o projeto Arte Contra o Crack simultaneamente na Cracolândia (região central da capital), no bairro de Guaianases / Lageado (zona leste da capital) e na cidade de Caconde. Em 2011 lançou o livro Krake-Aviltadas! pela mesma editora e ampliou este projeto de enfrentamento ao crack por meio da formação de multiplicadores socioculturais voltada para crianças e adolescentes para atuarem nas suas comunidades nas cidades de Divinolândia e Casa Branca e planeja ampliar paulatinamente para mais 40 cidades do interior paulista.

Paralelo à estes projetos, desenvolveu oficinas e palestras na Fundação CASA (complexo Raposo Tavares), no Instituto Religare, Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Instituto Pombas Urbanas, na Fundação Getúlio Vargas e diversas instituições de ensino escolas e universidades.


PROJETO GUERREIROS URBANOS
 
O projeto Guerreiros Urbanos teve início no início da década de 1990 a partir da inauguração do Teatro Flávio Império, no bairro do São Miguel Paulista, periferia da cidade de São Paulo. Trata-se de uma ação voluntária voltada para a formação política de crianças e adolescentes e prioriza a inclusão sociocultural e o enfrentamento às drogas, por meio das técnicas do teatro participativo.
 

Este projeto se fundamenta a partir das teorias do Teatro Dialético, de Bertolt Brecht, do Teatro do Oprimido, de Augusto Boal e do Teatro Popular, de Idibal Pivetta (César Vieira).
 

Entre outros objetivos, o projeto Guerreiros Urbanos foca principalmente na formação de multiplicadores socioculturais, da possibilidade das comunidades carentes fazerem escolhas críticas e, oportunizar para crianças e adolescentes socialmente vulneráveis outras possibilidades de escolhas. 
 

O projeto é desenvolvido simultaneamente no bairro de Guaianases (extremo leste da capital paulista) e na cidade paulista de Caconde (305 km da capital), sendo atendidas mais de 60 crianças e adolescentes e ingresso de novos participantes semestralmente.
 

Em vinte anos de atuação, o projeto tem fomentado o desenvolvimento da cultura local, com ações na Câmara Municipal de Caconde, o Levante Cultural 2010 que agregou diversas manifestações artísticas populares nas praças públicas, as Mostras de Teatro Comunitário que reúne anualmente diversos coletivos populares para apresentações gratuitas em praça pública e, ainda, fomenta o intercâmbio entre os grupos com outras referências nacionais como o Teatro Oficina, o Teatro Popular União e Olho Vivo, o Teatro Heliópolis, o Instituto Pombas Urbanas entre outros.
 

O projeto mantém, ainda, impacto estadual e nacional por meio de participações nos Fóruns Social da Mogiana, realizado pelo Instituto Euclides da Cunha na cidade de São José do Rio Pardo e significativa participação no XIII Congresso da BIEN (Basic Income Earth Network), na USP (Universidade de São Paulo) em São Paulo.
 

Por notória atuação o projeto vem recebendo destaques na imprensa como matérias no jornal Diário de S. Paulo e em programas radiofônicos como Globo Cidade, na Rádio Globo e no Gente que Fala na Rádio Trianon, além de entrevista no programa Provocações, da TV Cultura e Programa do Jô, da TV Globo.
 

Para o próximo semestre o projeto realizará o programa Arte contra as Drogas, com parceria com o CONDECA (Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente) e CMDCA (Conselho Municipal dos Direito da Criança e do Adolescente) e prevê a circulação em 40 cidades do estado de São Paulo com estimativa de atingir um número considerável de público, a realização da 1ª. Bienal Caipira que agregará as manifestações artísticas populares na praça da matriz da cidade de Caconde/SP, o Levante Cultural 2011 e a Mostra de Teatro Comunitário.
 

Até novembro de 2010 o projeto recebia uma ajuda de custo mensal de uma Ong e, desde então, sem nenhum recurso, temos encontrado dificuldades para manter as ações em Guaianases, Caconde e nas 40 cidades previstas para início ainda neste ano.
 
PROJETO GUERREIROS URBANOS
Telefones: Fixo (11) 2652.8907 / TIM (11) 8518.7920
A/C: ASDRÚBAL SERRANO
ASDRÚBAL SERRANO

 

Bancada feminina da Assembleia realiza seminário sobre as mulheres e a reforma política


 Com a presença de prefeitas, vice-prefeitas e vereadoras de 21 municípios, a bancada feminina da Assembleia Legislativa, em parceria com o Fórum Estadual de Instâncias de Mulheres de Partidos Políticos de Santa Catarina, com representação do DEM, PCdoB, PDT, PMDB, PP, PPS, PR, PRB, PSB, PSDB, PT e PTC, realizou, nesta segunda-feira (4), o seminário “As mulheres e a reforma política”, com palestras da senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB/AM), deputadas federais Luci Choinacki (PT/SC) e Luiza Erundina (PSB/SP) e Liége Rocha, do Fórum Nacional de Mulheres. 

Vanessa Grazziotin, catarinense de Videira, fez um retrato da participação da mulher brasileira na política. No Senado a participação feminina é de 13%; na Câmara, 8,7%; nos governos estaduais, 11%; nos ministérios, 21,6%; nas prefeituras, 9%; nas assembleias, 11,6%; e nas câmaras municipais, 12%. De acordo com a senadora, em média a participação feminina é de apenas 11%, circunstância que coloca o país na 108ª posição entre as 192 nações que integram a ONU. 

Para Vanessa, a incorporação das mulheres nas diversas instâncias de poder é um componente decisivo da democracia, pois as mulheres representam 52% do eleitoral nacional. “Não é uma luta por um direito de gênero, mas pela democracia”, afirmou. Ela propôs “uma reforma política sob a ótica de gênero” e defendeu o financiamento público de campanha e a lista fechada com alternância de gênero, para que as mulheres conquistem, no mínimo, 1/3 das cadeiras da Câmara dos Deputados em 2014. 

A senadora demonstrou pessimismo quanto à aprovação dessas propostas, uma vez que a correlação de forças no Congresso Nacional indica que a maioria é contra o financiamento público e a lista fechada. Vanessa criticou a forma com que o Senado e Câmara tratam do assunto: “a Câmara não conversa com o Senado e o Senado não conversa com a Câmara”. 

Entretanto, caso essas propostas naufraguem, segundo a senadora, será preciso retomar a discussão das quotas, porém não como estabelecida atualmente, de 30% das vagas de candidatos, mas de uma quota de cadeiras. Assim, ao invés de uma reserva para candidatos, as mulheres teriam uma reserva de parlamentares eleitos. 

Para Vanessa, as mulheres devem agir como os policiais militares, que vão invadir Brasília nos próximos dias para pressionar o Congresso a aprovar a PEC 300, que institui o piso nacional da categoria. “As mulheres também precisam ir até Brasília, aos milhares, para pressionar os congressistas. Precisamos instituir o dia nacional de luta pela reforma política democrática, com a participação das mulheres”, sugeriu. 

Luci Choinacki concordou com o posicionamento da senadora acerca do financiamento público de campanha e a lista fechada com alternância de gênero. Ela lembrou que as mulheres enfrentam uma cláusula de barreira de ordem prática, os filhos. “Temos dificuldades para fazer política carregando os filhos nas costas”, declarou. Para Luci, a questão precisa ser encarada com praticidade: “para garantir 30% de mulheres é preciso tirar 30% dos homens”. Luci sugeriu que as mulheres aproveitem o momento político, pois “quem elegeu uma mulher Presidente da República precisa garantir a participação de 30% das cadeiras das casas legislativas”. 

Para Luiza Erundina, a reforma política não acontecerá enquanto sua discussão ficar restrita ao Congresso Nacional. Para a deputada paulista, “quem está no poder não quer mudar”, por isso a ampliação da discussão na sociedade e a pressão dos brasileiros são fundamentais para avançar a tramitação da reforma.
De acordo com Erundina, uma reforma política de verdade teria de rever o pacto federativo, bem como a relação entre os poderes. Ela ressaltou que o Executivo legisla através das MPs e o Judiciário também, pela omissão do Legislativo. No caso do Judiciário, ela exemplificou a instituição da fidelidade partidária e cláusula de barreira. 

Para Erundina, um dos maiores males do país é o financiamento eleitoral, hoje praticamente todo bancado pelas empresas que têm contratos com os governos. Pessimista, ela declarou que o sonho e a utopia foram extintos da política brasileira, que os partidos se tornaram siglas de aluguel e que a disputa se resume à luta do poder pelo poder. “É preciso alterar a lógica que determina a política do país”, afirmou. 

Para isso, segundo Erundina, será necessário ir além das quotas. “As quotas são necessárias enquanto não houver condições de igualdade entre homens e mulheres, aliás, as quotas são um sintoma da desigualdade vigente”, ensinou. Ela concordou com a deputada Luci, de que os homens não abrirão espaços às mulheres. “Quando os partidos elaborarem suas listas, os homens que comandam os partidos não vão abrir mão do poder”, lastimou. 

A representante do Fórum Nacional de Instâncias de Mulheres de Partidos Políticos, Liége Rocha, observou que a luta pela emancipação das mulheres é uma das mais antigas e que vem crescendo. Ela lembrou que as mulheres possuem escolaridade maior que os homens, que chefiam cerca de 1/3 das famílias brasileiras, que recebem um salário 30% menor que os homens e que têm uma dupla jornada de trabalho.
De acordo com Liége, a participação feminina na política continuará aquém da representatividade da mulher enquanto as mulheres não se convencerem de que precisam militar naqueles espaços que são propícios à conquista do poder, ou seja, os partidos políticos. 

Liége destacou que, segundo o TSE, nenhum partido atingiu a quota de 30% de mulheres candidatas na eleição de 2010. Ela sugeriu que a mobilização comece pelos municípios, para que um grande contingente de mulheres vá até Brasília para pressionar os congressistas e divulgar a luta através da grande mídia. 

A deputada Luciane Carminatti (PT) afirmou que as mulheres precisam demonstrar sua insatisfação. Angela Albino (PCdoB), coordenadora da Bancada Feminina da Assembleia, observou que a união das deputadas vai além dos partidos políticos que integram. Para Ana Paula Lima (PT), as mulheres já assumiram um “protagonismo incontestável na política brasileira”. E a deputada Dirce Heidersheidt (PMDB) pregou a necessidade de se construir um mundo de igualdade entre os homens e mulheres. Também participou do seminário o deputado Neodi Saretta (PT), a presidente do PP Mulher, Elizabeth Tiscoski, a deputada federal Carmen Zanotto (PPS/SC) e a deputada estadual de Minas Gerais, Liza Prado (PSB). 


*Por Vitor Santos - ALESC 
**Foto: Carlos Kilian