quinta-feira, 24 de março de 2011

Uma deputada contra o caos do sistema político brasileiro

Por Bruno Huberman - Carta Capital
23 de março de 2011

Luiza Erundina (PSB-SP) se vê refém de uma manobra partidária fruto da ultrapassada configuração política que o criou

A deputada Luiza Erundina, diante da provável guinada de seu atual partido, o PSB, que pode se alinhar ao PSD de Gilberto Kassab, deixou claro qual será a sua decisão caso esse movimento que se pronuncia de fato aconteça: sair do partido. No entanto, a deputada paulista não coloca o carro na frente dos bois e espera que a direção do partido, representada pelo governador pernambucano Eduardo Campos, abra o debate dentro do partido e apresente uma posição oficial.

Erundina, que já mudou de partido uma vez, quando migrou do PT para o PSB em 1998, vê essa situação como fruto do “caos partidário” em que se transformou a política brasileira e espera que a reforma política em processo no Congresso, da qual faz parte da Comissão Especial na Câmara, dê luz a mudanças que evitem manobras como essa.

Em 2002, a deputada participou de outra discussão de reforma política na Casa, que resultou em um projeto, mas que nunca chegou a ser votado pelas divergências entre os partidos e as bancadas. “Sem a maior participação da sociedade não se conseguiu até hoje condições políticas no Congresso para se chegar a um resultado de reforma política.”

CartaCapital: A senhora disse que sairá do partido caso os rumos pretendidos pelas lideranças do PSB, de se unir ao novo partido do prefeito Gilberto Kassab, realmente aconteça. Ainda mantém essa posição agora que essa possibilidade parece mais real?
Luiza Erundina: Eu me manifestei naquele momento e de lá para cá nenhuma liderança do partido veio falar comigo afirmando ou negando o que possa acontecer. As informações que eu tenho são essas vinculadas pela imprensa. Eu não tenho nenhuma informação oficial. As instâncias estaduais partidárias ainda não se reuniram e essa questão ainda não foi objeto de nenhuma reunião. Eu estou na expectativa, como vocês. Imagino que vai ter dificuldades de natureza legal, porque não sei se a justiça eleitoral vai aceitar esses procedimentos que estão sendo adotados. Há a impressão declarada que esse é o meio de mudar de partido sem incorrer infidelidade partidária. Essa fusão com o PSB, segundo o Kassab, já seria para ter efeito nas eleições de 2012. Eu não vejo nenhuma coerência e explicação para que se possa juntar dois partidos, um que ainda nem existe, mas que é parte de um outro que está se dividindo, para ir para um partido cuja história, compromissos e programas são opostos do ponto de vista ideológico, programático e de sua origem aos deste novo partido. Eu não consigo viver neste partido se isso ocorrer, mas espero que diante dessas dificuldades legais, ou mesmo a possibilidade do partido vir a decidir de forma diferente, alguma coisa possa mudar, mas eu estou na expectativa.

CC: A senhora vê isso como uma desvirtuação da orientação ideológica do PSB?
LE: Com certeza. Eu duvido que essa força que vai se incorporar ao PSB vai se comportar nos princípios programáticos, ideológicos e políticos do partido. Eu não sei o que eles acham, por exemplo, da reforma agrária, da defesa pelas 40 horas semanais de trabalho e de outras tantas bandeiras que são opostas a estes outros que tem origem no DEM.

CC: Como a senhora vê, especificamente, essa mudança de orientação das lideranças, entre elas o presidente do partido, o governador Eduardo Campos, em se alinhar a políticos de direita, uma vez que o PSB tem uma herança muito forte da esquerda.
LE: Não é nenhuma consideração de ordem ideológica para explicar ou justificar essa movimentação. A única inferência que podemos fazer, digo inferência porque ninguém veio falar comigo sobre as razões desse projeto, de incorporação ou fusão de um partido arranjado com outro que tem mais de sessenta anos, um histórico de compromissos com a democracia, de luta por liberdade, que ficou inclusive fora da legalidade em duas ocasiões, na ditadura Vargas e depois na militar. É um partido que tem um compromisso real e que pagou caro na defesa da democracia, dos direitos humanos, da liberdade, enfim, que são princípios socialistas. Só posso imaginar que a motivação para esse projeto deve ser de natureza eleitoral, pragmática, que não leva em conta esses outros aspectos. Esse tipo de movimentação tem sido a marca da política brasileira: esvaziamento dos partidos nesse sentido de identidade ideológica, programática e política.

CC: Na questão da reforma política, a senhora que faz parte da Comissão Especial na Câmara, quais são os seus principais objetivos?
LE: Eu inclusive estou ajudando a construir uma frente parlamentar pela reforma política para a participação popular. Já tinha uma outra aqui na Casa, que funcionou a quatro anos atrás, que acompanhou o outro processo de discussão sobre a atual política na Câmara. Agora, essa frente é reformada em um caráter misto, ou seja, com a participação de deputados e senadores, além da participação de dezenas de entidades da sociedade civil. Ontem mesmo estive em uma audiência em Cuiabá, no Mato Grosso, na OAB para discutir a reforma política. Eu tenho a expectativa que esse processo de discussão de fato corrija as distorções do nosso sistema político, como as normas partidárias, apresenta alterações que dentro delas exista saída para esse caos nas relações partidárias, ou seja, destes projetos, como o do Kassab, fruto, a meu ver, deste mesmo caos deste sistema político exaurido e que precisa passar por profundas mudanças. Espero que eu e meus colegas de Casa consigamos chegar a uma solução para estes políticos que estão completamente insatisfeitos com esse projeto, como eu.

CC: Como a senhora vê as principais discussões da reforma política, como o fim da reeleição e do voto facultativo?
LE: Esses são pontos que estão sendo tratados no Senado. Aqui na Câmara, que começou o trabalho depois da comissão no Senado, estamos discutindo o sistema eleitoral. Vejo um mau começo na discussão por terem sido criadas duas comissões que funcionam com dinâmicas distintas. No Senado eles têm um prazo de 45 dias enquanto na Câmara temos 180 dias, com a intenção de envolver neste debate a sociedade civil. Aqui na Câmara, nós pretendemos realizar ao menos uma audiência pública em cada região do país. Nós estamos mais lentos porque enxergamos um sistema político e, portanto, as mudanças terão que ser mais profundas para realmente alterar os vários aspectos deste sistema, guardando entre si uma coerência.

CC: Particularmente, quais são suas intenções dentro da comissão?
LE: Eu venho participando deste debate desde 2002, que já teve uma comissão especial, que concluiu os seus trabalhos em 2005 e apenas em 2007 veio a ser pautada no plenário da Câmara, mas não chegou a ser votada. Todos afirmam que essa reforma é prioritária, é a reforma das reformas, mas quando se chega na hora do vamos ver, ou seja, de propor mudanças estruturais em nosso sistema político, termina não acontecendo pelo conflito de interesses entre os parlamentares, os partidos e as bancadas. Sem a maior participação da sociedade não se conseguiu até hoje condições políticas no Congresso para se chegar a um resultado de reforma política.

CC: Quais foram as conclusões que aquela comissão especial chegou?
LE: Aquela comissão resultou em um projeto. Ele previa a votação em lista pré-ordenada, com a alternância de gênero e articulado com o financiamento público, por entender que só é viável financiamento público com lista fechada. Previa também o fim das coligações, a criação da federação de partidos, em que três ou mais partidos se juntam mantendo a identidade de cada um deles para disputar em uma determinada eleição. A federação reduzia grande parte do prazo do mandato para qual essa federação tenha disputado, seja legislativo ou executivo. É uma série de pontos, que guardam entre si uma lógica, que se fosse aprovado avançaria muito. Finalmente começaríamos a dar passos concretos em uma reforma política que iria alterar substancialmente alguns aspectos do sistema político eleitoral e partidário do nosso país. E eu concordo com todos esse pontos.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Sugestões de MT sobre reforma política serão entregues ao Congresso

22 de Março de 2011
Fonte: www.sonoticias.com.br (MT)

Financiamento público de campanha, fim da reeleição e do sistema proporcional na eleição para deputados e vereadores foram os temas mais citados, ontem à noite, durante a audiência pública "Perspectivas da Reforma Política", que reuniu cerca de 200 pessoas na OAB, em Cuiabá. Representantes dos poderes Executivo, Judiciário e Legislativo se uniram à sociedade civil organizada para debater os onze pontos sugeridos pelo senador Pedro Taques (PDT) e o deputado federal Valtenir Pereira (PSB), membros das comissões da Reforma Política no Senado e na Câmara Federal.

Palestrantes do evento, o juiz Marlon Reis, presidente de honra do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), e a deputada federal Luiza Erundina (PSB/SP), também membro da comissão na Câmara, defenderam que a reforma política é primordial para a construção do conceito de lisura no processo eleitoral brasileiro.

"O atual sistema eleitoral faz com que os eleitos tenham dívidas maiores com seus financiadores de campanha do que com seu próprio eleitorado", analisou o juiz Marlon Reis. O magistrado também elogiou a mobilização dos mato-grossenses em torno do assunto. "Nunca vi tanta gente reunida para discutir política", frisou.

Militante no tema, a deputada federal Luíza Erundina destacou que a reforma só será possível caso a população participe diretamente do debate. "Em 2002, a Câmara Federal instituiu uma Comissão com o mesmo objetivo desta que foi criada hoje, mas nada foi aprovado. Sem a participação da sociedade o Congresso não fará reforma", disse.

"É impressionante a participação e o interesse da população de Cuiabá sobre o tema. Saio daqui acreditando mais na força do povo. O Congresso não fará a reforma política que vocês estão querendo. Vocês compreendem a reforma e estão lutando por ela", conclamou Erundina.

O deputado federal Valtenir Pereira avaliou que o debate deve contemplar mecanismos que eliminem o poder econômico do processo eleitoral. "Temos que combater o poderio econômico que desequilibra a disputa. A população deve participar do debate de temas da reforma, como o plebiscito, o referendo e o voto destituinte, para que a ela possa retirar do poder aqueles que tiveram comportamento diferente do que foi proposto na campanha".

Participação popular

O senador Pedro Taques agradeceu a participação de todos e conclamou a população para dar continuidade ao debate. "Professores, representantes da Cufa, MCCE, ONG Moral, economistas, juízes e sociedade civil. Todos aqui são importantes para fazer com que a reforma política possa promover aquilo que chamamos de democracia participativa. Mais que uma reforma política, precisamos reformar a forma de se fazer política", concluiu o senador.

Participaram do evento o presidente do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJ-MT), desembargador Rubens de Oliveira; a procuradora-chefe da Procuradoria da República em Mato Grosso (PR/MT), Vanessa Cristina Marconi Zago Ribeiro Scarmagnani; o juiz Pedro Francisco da Silva representando a Justiça Federal; o juiz Gonçalo Antunes de Barros representando o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MT); o procurador Paulo Prado representando o Ministério Público Estadual.

O evento também contou com a presença dos deputados Zeca Viana (PDT), Luciane Bezerra (PSB), Guilherme Maluf (PSDB), Adalto de Freitas (PMDB), Emanuel Pinheiro (PR), vereadores de Cuiabá e Várzea Grande, além de presidentes de diretórios partidários.

Nas próximas semanas serão realizadas audiências em Várzea Grande, Rondonópolis, Cáceres, Sinop e Barra do Garças. Ao final das audiências, um documento será elaborado e entregue às comissões da Reforma Política da Câmara e do Senado Federal. Taques e Valtenir defendem que a discussão sirva de subsídio para os trabalhos do Congresso Nacional.

As discussões seguirão a pauta do Senado e da Câmara que, em reuniões marcadas para esta semana, irão analisar quatro temas: suplência de senador; data da posse de chefes do Executivo; adoção do voto facultativo; e reeleição de prefeitos, governadores e presidente da República.

Na Reforma Política, os parlamentares deverão analisar os temas abaixo listados:

1. Sistemas eleitorais
2. Financiamento eleitoral e partidário
3. Suplência de senador
4. Filiação partidária e domicílio eleitoral
5. Coligações
6. Voto facultativo
7. Data da posse dos chefes do Executivo
8. Cláusula de desempenho
9. Fidelidade partidária
10. Reeleição e mandato
11. Candidato avulso

segunda-feira, 14 de março de 2011

Secretaria de Saúde de Rio Claro recebe verba por proposta de Luiza Erundina

Do jornal Tribuna 2000 - Rio Claro/SP
12/03/2011

Raquel Picelli anunciou nesta semana que a Secretaria Municipal de Saúde recebeu 100 mil reais de emenda ao Orçamento Nacional proposta pela deputada federal e ex-prefeita de São Paulo Luiza Erundina. O dinheiro foi liberado no final do ano.
Disse Raquel, agradecendo o empenho e a compreensão de Erundina (PSB) que o dinheiro será aplicado, junto com uma contrapartida do Município, nas reformas de Unidades Básicas de Saúde dos bairros Benjamin de Castro, Centenário e Maria Cristina.

Câmara devolve Projeto de Lei que institui referendo popular para fixação de salário dos políticos


"Caros/as, compartilho com vocês uma informação importante sobre o PL n° 55/2011, que apresentei no início da legislatura. 
 O PL 55 propõe a instituição de referendo popular p/ a fixação dos subsídios do Presidente da República e dos membros do Congresso Nacional. Pois bem: esse projeto foi devolvido à mim pela Presidência da Câmara na última quinta-feira (dia 3 de março). A Presidência justifica que a proposição deveria ser apresentada como Projeto de Decreto Legislativo e não como um Projeto de Lei, como fiz. 
Acontece que, para que eu apresente um Projeto de Decreto Legislativo, é preciso ter o apoio de 171 parlamentares (1/3 da Casa) e isso, certamente tornará mais difícil a reapresentação dessa proposição.
Atalho para o artigo no site http://bit.ly/dH7ZMl

quinta-feira, 3 de março de 2011

Erundina e os rumos da reforma política

Extraído do site Brasilianas.org
03/03/2011
  
De maneira a senhora avalia o momento político para se fazer a reforma política?
Erundina: Há muito tempo que a sociedade aguarda uma resposta do Congresso em termos de reforma política. Fala-se muito que é a reforma das reformas, mas não se avança.
Em 2002, participei de uma comissão especial semelhante a essa, que produziu uma proposta possível. A proposta seguiu apenas mudanças que podiam ser feitas através de projetos de lei ordinária ou projeto de lei complementar. Essa proposta [que previa financiamento exclusivo de campanha, fim as coligações proporcionais e voto em lista] foi aprovada por maioria de votos na comissão. Ela veio a plenário em 2007 e terminou não sendo votada.
Agora a onda voltou, tanto no Senado quanto na Câmara. No Senado, criou-se uma comissão de notáveis, com uma perspectiva de solução imediata, de fazer uma proposta bem simplificada, a curtíssimo prazo. Entre outros focos, estão anunciando a proposta do distritão, ou seja, que é péssimo, incentiva o personalismo e não vai resolver as distorções do nosso atual sistema político.

Quais são as principais distorções do sistema?
Erundina: São muitas distorções, seja na lei eleitoral, que leva a desvios do ponto de vista de financiamento das campanhas. Financiamento público já existe por conta do fundo partidário e da gratuidade do horário eleitoral de rádio e TV, mas isso se soma ao financiamento privado sem nenhum controle, com muito pouca fiscalização e daí vem caixa dois, abuso do poder econômico, distorcendo a vontade do eleitor.
Outra distorção é o sistema de coligações. As coligações levam ao eleitor se frustrar diante de uma decisão que ele tomou de voto e que nem sempre ele elege aquele em quem ele votou. Portanto, uma distorção a se corrigir é exatamente as coligações de partidos nas eleições proporcionais.
Há outras questões que precisam serem enfrentadas: a lei eleitoral, o código dos partidos políticos, que hoje não têm nenhuma identidade. Partido quer se incorporar a outro partido numa concepção ideológica de origem antagônicas.

Há, inclusive, essa última discussão do prefeito Kassab podendo migrar para o PSB.
Erundina: Exato. São distorções que precisam ser enfrentadas e não dá para fazer isso com um ou dois meses de trabalho ou com uma ou duas propostas que a gente sabe qual o propósito disso. É para reduzir o número de partidos, para ser mais fácil do poder controlar esses partidos em suas bases.
Precisamos ter cuidado para não gerar uma falsa expectativa na sociedade, como já ocorreu em outras ocasiões. Na comissão da Câmara, são 40 membros com uma diversidade enorme e dificilmente é possível construir algum consenso num público tão heterogêneo, numa composição tão heterodoxa. Vamos para lá tentar evitar o pior.

Essa articulação é bastante na defensiva?
Erundina: Como assim?

A senhora diz que pretende evitar o pior.
Erundina: Eu não acredito, pelo menos pela demonstração dos que compõem essa comissão e até pelas experiências anteriores que já tivemos, não tenho muita esperança de que o resultado desse trabalho possa avançar além daquilo que já se tentou num passado recente.
Queria destacar a existência de uma Frente Parlamentar pela Reforma Política com Participação Popular, que já funciona na casa há mais de quatro anos e que contribuiu muito para a construção daquela proposta que foi relatada pelo deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), que previa votação em lista, previa financiamento público exclusivo, fim de coligações.
Essa frente parlamentar, que é uma ponte com a sociedade e que traz a participação de entidades da sociedade civil está sendo reativada e agora é uma a frente mista, com deputados e senadores. Ela vai ser lançada no próximo dia 23. Aí sim, é um espaço amplo, plural, aberto a sociedade para acompanhar o trabalho dessa comissão especial, mas ao mesmo tempo fazer propostas e trazer o pensamento da sociedade a respeito dessa questão.

terça-feira, 1 de março de 2011

Orientação pragmática

Por Dora Kramer - O Estado de S.Paulo 01/03/2011

Nessa história de janelas de infidelidade, fundação de novos partidos e fusões entre legendas, deflagrada pela decisão do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, de deixar o DEM, salvo lapso de memória apenas uma deputada levantou a questão programática.
Luiza Erundina, do PSB, que já avisou: se Kassab entrar por uma porta ela sai pela outra. Pelo motivo mais simples desse mundo e incluído pelo Supremo Tribunal Federal entre os casos em que a troca é permitida sem sanções: mudança de orientação programática do partido ao qual é filiado o insatisfeito.
O fato de Erundina ser exceção nesse debate cujo fio condutor é exatamente a orientação pragmática dos políticos em potencial mutação diz bastante sobre a política brasileira e as dificuldades de se fazer uma reforma digna desse nome.
Kassab, Guilherme Afif, Raimundo Colombo (governador de Santa Catarina) e mais a plêiade de políticos eleitos pelo DEM são socialistas exatamente desde quando?
A menos que tenham se convertido na mesma pia em que o empresário Paulo Skaf, então presidente da Federação das Indústrias de São Paulo, se batizou socialista para poder disputar o governo de São Paulo em 2010.
Justiça se faça, seguem apenas a prática da total desconexão entre os programas dos partidos, suas ideologias (quando existentes) e o comportamento de seus filiados.
Da Social Democracia o PSDB não guarda resquícios; o PMDB desde o fim da ditadura virou uma confederação com financiamento público de interesses particulares; o PDT de Leonel Brizola desmilinguiu-se ao tornar-se braço parlamentar da Força Sindical; O PTB de trabalhista só guarda o nome; o PT faz qualquer negócio pelo poder.
Mais ou menos ideológico firmou-se o DEM, na tentativa de livrar-se da marca fisiológica do PFL. Recentemente ensaiou afirmar-se como liberal no sentido conservador do termo. Mas, como determinadas teses definidas como de direita remetem à época da ditadura, sucumbiu.
E que não se diga que perdeu espaço por causa do escândalo Arruda, porque nesse quesito outras agremiações deram contribuições mais eloquentes e nem por isso ganharam passaporte para o vinagre.
O problema principal do partido parece ter sido uma combinação de oposição sem trégua ao guia genial dos povos e uma reformulação interna malfeita e com condução ainda pior.
Pois muito bem, e o que tem o PSB para se tornar atrativo de tantos? Ideias, ideais, propostas, plataformas?
Não. Tem um presidente promissor, na figura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, exibiu expressivo crescimento na última eleição, tem trânsito no governo e na oposição e principalmente proximidade com o Palácio do Planalto.
Tradução: representa excelente oportunidade para quem enfrenta dificuldades eleitorais nos partidos atuais e tem o maior interesse em engordar suas fileiras. Ademais, para quem aposta que Lula voltará em 2014 é uma excelente forma de, sem querer querendo, se associar à monumental máquina de produzir votos.
Já o pensamento, a consistência, a identidade ideológica, a luta de cada partido hoje perdedor para se transformar em vencedor corrigindo os próprios erros, sabe como é: dá muito trabalho sem resultado imediato assegurado.
À francesa. O colega Gabriel Manzano Filho garimpou esta: na França o costume, não a lei, manda que ministros abandonem seus cargos quando perdem eleições.
O argumento é o de que o perdedor possa usar o posto para se vingar dos adversários que o derrotaram.
Exemplo: Alain Juppé tinha sido convidado pelo presidente Nicolas Sarkozy para ser ministro do Meio Ambiente. Tomou posse e 19 dias depois disputou e perdeu a eleição legislativa em Bordeaux.
Resultado: precisou renunciar ao ministério.
Por aqui ocorre exatamente o contrário: ao perdedor, se amigo do poder, há sempre um alto cargo reservado como recompensa pelo pífio desempenho.
Tipo da regra que não precisa de lei. Só de mentalidade referida no espírito público.

Os partidos políticos são mais resistentes à emancipação política das mulheres do que quaisquer outras instituições



“A vitória da nossa presidenta é mais do que uma vitória pessoal ou de partido político, é a vitória de uma luta de décadas do movimento das mulheres. Alcançamos, com a eleição da primeira presidenta, um novo patamar e vamos dar um novo salto nos próximos anos.

No mundo todo, este é um momento de crescimento do protagonismo das mulheres. Na Argentina, por exemplo, já são 40% de mulheres no Parlamento. No entanto, não podemos nos iludir que já chegamos à meta na luta pelo empoderamento das mulheres. No Brasil, no âmbito do poder legislativo, não houve nenhum crescimento. Isso nos coloca a necessidade de uma reflexão sobre os dispositivos legais que precisam ser incorporados nas políticas públicas, nas políticas sociais e no debate sobre a reforma política.

Os partidos políticos são mais resistentes à emancipação política das mulheres do que quaisquer outras instituições e, dentro dos partidos, não houve nenhum avanço. A limitação de representantes mulheres no Congresso é fruto das direções autoritárias, totalizadoras e machistas dos partidos políticos. Mesmo os partidos mais progressistas, mais populares e de esquerda não têm uma política de incorporação de mulheres. Ao contrário, durante os processos eleitorais, não apoiam e estimulam as candidaturas das mulheres, não ajudam a resolver os impasses, as dificuldades de toda ordem que a mulher enfrenta ao disputar o poder nas eleições em geral.

A presidenta Dilma Rousseff tem se manifestado favoravelmente ao processo de Reforma Política. A Frente Parlamentar pela Reforma Política tem mulheres bastante ativas e combativas, embora em número muito pequeno. Temos desenvolvido debates pela reforma política na qual os interesses das mulheres sejam contemplados. Um exemplo é a votação, que não se faria mais por candidato; cada partido teria uma lista pré-ordenada, criada em debate interno, na qual haveria a adoção da lista de alternância de sexo, em que as mulheres teriam mais oportunidades.

Eu não colocaria, no entanto, todas as fichas na Reforma Política, porque no Congresso, infelizmente, conta o interesse de cada um, nem sequer do partido. 'O que a reforma política vai contribuir ou atrapalhar para eu me reeleger?' Este é o pensamento predominante.

Portanto, as mulheres dos movimentos externos ao Congresso têm de ser mobilizadas para dizer o que pensam sobre a Reforma Política. Precisamos somá-las às lideranças políticas do Congresso e do Executivo, que ainda são poucas, mas estão ajudando no avanço do empoderamento da mulher e da democracia participativa e direta. É fundamental que a sociedade entenda a importância da Reforma Política.

Outra proposta que está pronta para ser votada em Plenário é a Proposta de Ementa Constitucional (PEC), de minha autoria, que determina que a Mesa Diretora e as mesas das Comissões Permanentes ou Temporárias tenham, em sua composição, a presença de pelo menos uma mulher. Em 185 anos de existência do Poder Legislativo, somente agora uma deputada conseguiu ocupar o cargo titular da Mesa Diretora, Rose de Freitas. Este fato inédito também faz parte do fortalecimento do protagonismo da mulher. Mas foi uma decisão partidária. Com a PEC, a mulher não será indicada pelo seu partido, mas por uma bancada feminina.

Evidentemente, as mulheres que assumiram os altos cargos de poder, como nos Ministérios, vão contribuir na luta, mas isso não é mecânico. Nem sempre estar no poder executivo significa uma presença concreta por direitos, cidadania e espaço de poder da mulher na sociedade como um todo, não só no Parlamento, nas escolas, nas empresas, no mundo das ciências.

Isso vai depender do quanto todas nos – mulheres no Parlamento e no Executivo – vamos crescer nessa nova conjuntura e fortalecer nossa luta autônoma, soberana, independente. Ninguém dá espaço na política; ele é conquistado com muita garra, com muita unidade e estratégia.”

Extraído do site Agência Patrícia Galvão
28 de Fevereiro de 2011

Luiza Erundina propõe revisão da Lei da Anistia e aprovação de reforma política ainda em 2011

 
Deputada Luiza Erundina
 

A deputada Luiza Erundina (PSB-SP) afirmou que a sociedade brasileira e o Congresso Nacional precisam debater com mais profundidade dois temas que ela considera fundamentais para o País: a Lei da Anistia (6683/79) e a reforma política.

Erundina pediu o apoio dos parlamentares ao Projeto de Lei 573/11, de sua autoria, apresentado no início desta legislatura, que “dá uma interpretação mais autêntica à aplicação da anistia política”. O texto exclui da anistia os chamados crimes conexos - aqueles cometidos contra a pessoa humana por agentes públicos, militares ou civis. Para a deputada, nem a prescrição ou qualquer outra forma de impunibilidade devem se aplicar a esses crimes.

“Espero que esta Casa faça justiça às vítimas da ditadura e complete o processo de redemocratização”, afirmou a deputada. Ela elogiou a iniciativa da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que acionou o Supremo Tribunal Federal (STF) sob o argumento de que a forma de aplicação da anistia descumpre preceito fundamental dos direitos humanos por beneficiar autores desses crimes conexos, entre os quais os de sequestro e tortura.

Erundina, entretanto, lamentou que o STF, em decisão interpretativa adotada no ano passado, tenha rejeitado os argumentos da OAB, e assim, “isentado os torturadores, a ponto do Brasil se ver hoje diante do vexame de sofrer uma condenação da Corte Interamericana de Direitos Humanos”. De acordo com a Convenção Americana dos Direitos Humanos, explicou a deputada, carece de efeito jurídico qualquer disposição legal que impeça a investigação e sanção de graves violações aos direitos humanos. “Nossa lei da anistia não pode seguir sendo um obstáculo à identificação e punição dos responsáveis”, destacou.

Reforma política - Luiza Erundina comunicou o relançamento, no próximo dia 23 de março, da Frente Parlamentar pela Reforma Política, e explicou que, agora, o grupo será misto, para incluir senadores. Também participarão da frente, segundo a deputada, entidades da sociedade civil. “Será um canal de diálogo com a sociedade, e nós precisamos exercitar essa outra dimensão da democracia, participativa, direta, que está prevista na Constituição”, disse.

A deputada lamentou que a proposta de reforma política aprovada por comissão especial da Câmara, e relatada pelo deputado Ronaldo Caiado (DEM) “não tenha sequer sido votada pelo Plenário desta Casa”. Para ela, a explicação está na lógica dos interesses individuais dos parlamentares, “com as honrosas e devidas exceções”. “Muitos deputados nada querem mudar porque temem perder a reeleição”, afirmou Erundina, que ressaltou a necessidade de “derrotar essa lógica” para que a reforma seja aprovada ainda em 2011.

Fonte: Jornal da Câmara
Foto: Agência Câmara