quinta-feira, 10 de maio de 2012

Cotada para vice, Erundina nem sequer foi sondada

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Entrevista concedida ao site Valor Econômico 07/05/2012
Informações e foto: Valor Econômico

Cogitada pelo PT para ser vice do ex-ministro Fernando Haddad na disputa pela Prefeitura de São Paulo, a ex-prefeita e deputada federal Luiza Erundina diz sentir-se desrepeitada por seu partido, o PSB. Erundina comenta que "absolutamente ninguém" conversou com ela a respeito da possível composição com o PT e afirma que está afastada da negociação política sobre a eleição na capital paulista.

Isolada dentro do PSB, a ex-prefeita explica que mantém seu mandato baseado em "uma aliança com o povo" e reclama da falta de democracia no PSB. O poder, diz, está concentrado nas mãos de poucos dirigentes.

Fundadora do PT, Erundina foi para PSB em 1997 e é um dos principais nomes do partido em São Paulo. Aos 77 anos, está em seu quarto mandato na Câmara. A deputada analisa que o presidente nacional do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, não será candidato em 2014 por estar muito alinhado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e à presidente Dilma Rousseff. No entanto, destaca o investimento do PSB na construção da candidatura própria à Presidência para 2018.

A seguir, a entrevista concedida ao Valor na sexta-feira, em São Paulo, depois de participar de um seminário do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação.

Valor: Como a senhora vê uma eventual aliança entre PT e PSB em São Paulo?

Luiza Erundina: Não tenho opinião porque não sei o que está acontecendo. De um lado, você ouve: tal dirigente defende uma aliança com o PT porque historicamente isso acontece em todos os níveis. De outro lado, há quem defenda a candidatura própria mas, ao mesmo tempo, diz que já tem compromissos com outra força política, porque faz parte do governo, no caso do governo do Estado. O nosso presidente estadual do PSB [Márcio França] é secretário do governo [Geraldo] Alckmin [PSDB]. Então eu não tenho condições de sequer avaliar o processo e dizer em que direção ele vai seguir.

Valor: Mas a senhora é cotada para ser vice do Haddad. Houve alguma conversa com o PSB?

Erundina: Não houve. Absolutamente ninguém, nem do meu partido, nem do outro partido [falou comigo]. São cogitações que não passam por mim, balões de ensaio. Me sinto até meio desrespeitada com isso. Se quer cogitar minha participação teria que me consultar, me ouvir. Não pode sair assim falando que fulano de tal vai ser isso ou aquilo. Não é o modelo que acredito.

Valor: Como tem sido a relação da senhora com o PSB?

Erundina: Lamentavelmente o partido não tem vida partidária. Aliás não é de hoje, na capital e no Estado. Não é da tradição, da cultura do partido, como é em outros, de ter encontros, discussões políticas, enfrentamento de posições, que é normal na democracia interna de um partido. Nosso partido não tem isso. Há dirigentes que têm controle do aparelho partidário, tanto no Estado quanto no município, e as decisões não são colegiadas, coletivas. Não tenho vida partidária, desse ponto de vista. Eu sou demandada no interior, em outros Estados... Estou sempre à disposição do partido. Tenho uma agenda partidária a partir das demandas que vêm, mas não representa um projeto que o partido tenha, por exemplo no Estado ou no município de São Paulo, que possa suscitar a minha presença em atividades.

Valor: A senhora se sente isolada no partido?

Erundina: Não me sinto isolada porque eu fiz sempre a política em aliança com o povo. Se a gente consegue construir alguma coisa e apresentar alguns resultados daquilo que a gente faz, encaminha, investe. Não se deve a um mandato individualmente.

Valor: A senhora já foi do PT, tem ligação com o partido, mas mantém boa relação com Chalita. Quem apoiará nesta eleição?

Erundina: Vamos esperar que os partidos mostrem suas propostas. Sinto falta de uma discussão sobre a cidade. São Paulo tem potencial de construir uma proposta alternativa ao país, como modelo de gestão, de desenvolvimento urbano, com projeção para além do país. Lamentavelmente o processos eleitorais se dão muito iguais e não se sente avanço. Não é só ter um programa bonito, porque isso você pode encomendar um para um especialista... Mas não é isso. É uma construção com a sociedade, nesse tempo de preparação da eleição.

Valor: Como a senhora vê a aproximação entre o governador Eduardo Campos e o prefeito Gilberto Kassab? O PSB caminha para uma candidatura própria em 2014?

Erundina: Não. Campos está muito alinhado ao governo, a Lula, a Dilma. Está fazendo excelente gestão em Pernambuco, tem tido respaldo do governo. É um projeto do partido, não só dele, mas não acredito que seja em 2014. Mas, com certeza, pela juventude e pela experiência que já acumulou e por ser uma pessoa habilidosa, competente politicamente, vai ser um futuro candidato com viabilidade à Presidência. Não acredito a curto prazo.

Valor: A proximidade entre PSB e PSD pode viabilizar a construção de uma terceira via para 2014?

Erundina: Não acho. O partido do Kassab ainda não conseguiu configurar uma identidade ideológica, política. Ele [PSD] se compõe em diferentes Estados, municípios com forças diversas. Portanto ainda não se afirmou. Não é um partido que tenha projeto, identidade, propósito. Eles vão construir, mas não é possível pensar nesse partido [PSD] como uma força capaz de se compor e configurar um projeto político ou de governo.

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